A BRINCADEIRA DE FAZ DE CONTA: LUGAR DE SIMBOLISMO, DA REPRESENTAÇÃO, DO IMAGINÁRIO
Quando vemos uma criança brincando de faz–de-conta, sentimo-nos atraídos pelas representações que ela desenvolve. As cenas não nos deixam dúvidas dos significados que representam dentro de um contexto. A menina torna-se mãe, tia, professora, etc e o menino torna-se pai, herói, polícia, etc. papeis desempenhados com clareza, sem script e sem diretor, é como um mini teatro, onde papéis e objetos são improvisados.
São várias as denominações que recebem esse tipo de jogo: o jogo imaginativo, o jogo de faz-de-conta, o jogo de papéis ou jogo sócio dramático. O importante é a simulação ou o faz-de-conta que nos mostram a eficácia para promover o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança.
Somente no século XIX deu-se a abertura do mundo infantil. Apesar de ainda haver pouca descrição dos jogos das crianças na literatura. Na Alemanha, Goethe e Schiller começaram a perceber e dar importância ao componente imaginativo nos jogos das crianças e o significado no comportamento adulto, principalmente no que diz respeito à produção artístico.
Fröebel e Pestalozzi, desbravadores da Educação Infantil, foram sensíveis à importância do jogo na infância, relacionando à pratica do ensino e educação da criança.
Mark Twain mostra o jogo de faz-de-conta muito bem ao contar as aventuras de Tom Sawer e seus amigos que brincavam de piratas, de capitão de barco e outros jogos.
Mesmo já existindo muito antes do século XIX, o jogo imaginativo passava despercebido pelo mundo adulto. Somente nos dias atuais, com a mídia, seus filmes, desenhos e super heróis, influenciaram o desenvolvimento do jogo imaginativo, ficando mais elaborado e sofisticado.
O jogo de fantasia possibilita observar a origem dos devaneios na fase adulta, e já era defendido por muitos teóricos como: Freud (1976), Piaget (1971), Wygotsky (1984) e Luira (1932).
As atividades de “voar”, cair, correr e pular corda, representam experiências concretas que envolvem elementos de imaginação e de faz-de-conta.
Para Piaget, o jogo de imaginação ou faz-de-conta significa que quando a criança brinca, assimila o mundo do seu modo, da maneira como ela o percebe, pois sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto mas com o da função que a criança lhe atribui. É o que ele chama de jogo simbólico, que é a representação de um objeto por outro, é dar uma nova significação a vários objetos. É o faz-de-conta.
Para Vygotsky a imaginação é uma atividade consciente que não existe numa criança muito pequena. Ele define a brincadeira como uma situação imaginária criada pela própria criança e que vai mudando o interesse conforme a criança vai crescendo, como por exemplo, um brinquedo que interessa a um bebe, deixa de interessar a uma criança mais velha. Para ele à medida que uma criança vai se desenvolvendo, vai se modificando, primeiro predomina nas brincadeiras as situações e as regras ficam ocultas ( não explicitas), depois, na medida que vai crescendo, predominam as regras (explicitas) e a situação imaginária fica oculta.
Na ação e no significado do brinquedo, Vygotsky da muita ênfase, pois para ele é praticamente impossível uma criança com menos de 3 anos usar do imaginário, pois, quando ela passa do concreto para o abstrato, não existe continuidade e sim uma descontinuidade. No brinquedo a criança vai perceber o objeto não da maneira como ele é, mas como ela gostaria que ele fosse, lhe conferindo um novo significado.
Para Vygotsky, o mais importante não é a semelhança do objeto com a coisa imaginária, mas o gesto que se assemelha a realidade, o significado conferido ao objeto. No brinquedo, uma ação substitui outra ação, assim como um substitui outro objeto.
Vygotsky, fala ainda que o brinquedo é levado muito a sério por crianças menores de 3 anos, pois ela não separa o imaginário do real. Na idade escolar o brincar tem um significado diferente, torna-se uma atividade mais limitada que preenche um papel específico em seu desenvolvimento.
O brinquedo e o desenvolvimento simbólico segundo Elkonim (1971), citando Vygotsky, diz que a simbolização através dos objetos é pré-condição para o início do jogo de papéis, que vai se desenvolver a partir das atividades da criança com o objeto, principalmente, aos 2 ou 3 anos de idade, essas atividades vão se desenvolver a partir da relação da criança com os adultos.
Já de 1 ao 2 anos, a atividade não é separada do objeto assimilado nem mesmo independente, transferida pela criança do objeto a um outro objeto. Constituía a principal diferença do esquema manipulativo sensório-motor no qual assimilação do objeto aparece claramente na repetição de movimentos com diversos objetos. Depois disto a criança inicia a reproduzir ações em suas brincadeiras. Ex: Alimenta seu cão, ou até mesmo suas bonecas, outros bichinhos.........
Inicia a identificação de suas atividades com os adultos, seus brinquedos refletem seus momentos individuais de sua vida de seu dia a dia.
Porém nenhum destes objetos substitui ou simboliza outros objetos. A separação ação/objeto só ocorre quando a criança reproduz a situação na qual os objetos são ausentes. Exemplo: Dar banho na boneca em água imaginária ou dar de comer um alimento que não existe.
Mais ou menos aos 3 anos de idade a criança já consegue nomear sem a ajuda dos adultos, imaginando suas brincadeiras. Ex: um pedaço de pau vira sabão, um banco um carro, etc. A partir deste momento, a criança não só substitui um objeto por outros ou reproduz aspectos de sua vida diária, mas passa a representar papéis da vida dos adultos como brincar de mamãe, de médico.
É na pré-escola que acontece o desenvolvimento do jogo de papéis, através das brincadeiras de faz-de-conta. A interpretação do papel de adulto, é uma forma original de simbolização. Essa fase é transcorrida pelas crianças que vão da brincadeira onde o conteúdo é a representação das atividades dos adultos com objetos para a brincadeira onde o conteúdo é a reprodução das relações de adultos entre si ou com o grupo de crianças.
Segundo Vygotsky, 1984: 122-6). Jogo simbólico é um mecanismo comportamental que possibilita a transição de coisas como objetos de ação para coisas como objetos de pensamento. Diz ele também que: o brincar tem sua origem na situação imaginária criada pela criança, onde desejos irrealizáveis podem ser realizados, com o objetivo de reduzir a tensão, acomodar conflitos e frustrações da vida real..
Para Piaget, o brincar é uma fase do desenvolvimento da inteligência, que marca o domínio da assimilação sobre a acomodação, sendo o objetivo consolidar a experiência passada.
O faz-de-conta, é a ponte entre a realidade e a fantasia. Pois é através delas que as crianças compensam as pressões que sofrem na realidade do dia a dia, e também procuram a satisfação indireta dos devaneios irreais, livram-se da pressão dos adultos, especialmente dos pais.
Segundo Salum e Moraes (1980)...A realidade do cotidiano, diante do fantástico mundo da ficção, parece menos interessante e de mais fácil assimilação pela criança.
Kosrelnik e colaboradores (1986) citam características dos super-heróis que nos levam a entender por que as crianças são tão fascinadas pelos super-heróis e tentam imitá-los. Às crianças tem consciência que o mundo é dominado pelos adultos e que elas não tem poder sobre isso, o que justifica se colocar no papel de poder (super-heróis), onde ela pode dominar os vilões ou situações que provocam medo, situações de vulnerabilidade, insegurança. É na brincadeira de super-herói que a criança constrói sua autoconfiança e supera obstáculos da vida real.
A brincadeira de super-herói pode ser uma forma especializada de jogo de papéis ou sócio-dramático. Muitas vezes visto como prejudicial, caótico ou violente, pelo contrário, essa brincadeira, oferece oportunidade da criança obter um sentido de domínio, e trás também um benefício comumente associado ao jogo dramático.
Algumas das características dos super-heróis citadas por Kostelnik e colaboradores:
- Bondade, sabedoria, coragem, inteligência e força;
- solucionar qualquer problema e ultrapassar obstáculos
- pessoas os procuram para segui-los e obter ajuda, eles não recebem ordens de ninguém;
- sabem sempre o que é certo, não se enganam nunca;
- não se frustam, não tem dúvidas, não são fracos, como a maioria das pessoas;
- são aprovados e reconhecidos pelos adultos e todos querem ser seus amigos.
Por tudo isso as crianças desejam ter seus poderes, além de poder voar, nadar embaixo d’água e até mesmo mudar a forma do corpo.
As crianças no jogo simbólico constroem uma ponte entre a brincadeira e a realidade. São capazes de lidar com complexas dificuldades psicológicas através do brincar. Elas procuram integrar experiências de dor, medo e perda. Lutam com conceitos de bom e mal. O triunfo do bem sobre o mal dos heróis protegendo vitimas inocentes é um tema comum na brincadeira das crianças. (Bettelheim,1988).
Crianças que vivem em ambientes perigosos retratam em suas brincadeiras o que passam em seu dia a dia.
Dentro de uma mesma cultura, crianças brincam com temas comuns: educação, relações familiares e vários papéis que representem as pessoas que integram sua cultura.
O brinquedo aparece como um pedaço de cultura colocado ao alcance da criança. É seu parceiro na brincadeira. A manipulação do brinquedo leva a criança à ação e à representação, a agir e a imaginar.
O brinquedo pode ser um mediador de uma relação com outra ou com uma atividade solitária, mas sempre sobre o fundo da integração a uma cultura específica. O mundo representado é mais desejável que o mundo real.
No sonho, na fantasia, na brincadeira de faz-de-conta desejos que pareciam irrealizáveis podem ser realizados.
(Trabalho realizado para o pós em grupo com as colegas Fernanda, Marise e eu)
domingo, 29 de agosto de 2010
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adorei o texto amiga continue perseverante a prática leva ao aperfeiçoamento...
ResponderExcluirRealmente, este capítulo do livro 'Jogo, Brinquedo, brincadeira e a educação' (Tizuko Morchida Kishimoto) é esclarecedor!
ResponderExcluirumm mais ou menos não é o qui eu procuro mais serve
ResponderExcluirSinta-se bem a vontade no meu blog e estou a disposição para outros esclarecimentos!
ExcluirObrigada por visitar meu blog
Cirea
para ficar mais elaborado deveria ter as referencias, tanto em cada citação, quanto a indicação da obra do autor sitado
ResponderExcluirRealmente Taty, foi uma falha, vou tentar localizar o trabalho com as devidas referências e farei esta correção. Obrigada
ResponderExcluirNão podemos nos apropriar do que não é nosso!
Um abraço e me coloco sempre à disposição